Dormimos na forma correta?

 

Esse estranho hábito do passado mostra que podemos estar dormindo errado a vida toda 

Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 40% dos brasileiros sofrem com algum tipo de insônia. O problema do sono pode ser dividido em três tipos diferentes, com dificuldades para começar o sono, manter o sono ou terminar o sono.

Quem sofre com dificuldade de se manter dormindo e acorda frequentemente durante a noite, no entanto, pode não ser tanto vítima de algum forte distúrbio na hora de dormir. Evidências em pesquisas históricas e biológicas sugerem que acordar durante a noite não tem nada de anormal e, na verdade, faz parte do ritmo natural de nosso corpo.

De acordo com historiadores e psiquiatras, a sugestão de uma rotina de oito horas de sono por noite não foi comum durante toda a história e, por causa disso, nós podemos estar dormindo da forma errada por anos. Quem sofre com insônia e tem dificuldades para passar a noite inteira dormindo pode estar fazendo as coisas do jeito certo.

Em análises de materiais datados da Europa antes da Revolução Industrial, antropólogos perceberam que o padrão de sono dividido em duas etapas era a normal. Na época, o horário de sono não era definido pelo relógio, mas sim pelas obrigações.

De acordo com o historiador A. Roger Ekirch, as pessoas da época deixavam de fazer as tarefas de casa com o início da noite e iam dormir. No meio da noite, era comum acordar e ter cerca de duas a três horas para fazer novas atividades antes de voltar para a cama e acordar com o nascer do sol.

Referências a termos como “primeiro sono” ou “sono profundo” e “segundo sono” ou “sono da manhã” são comuns em termos legais, artísticos ou documentos de todos os tipos. Gradualmente, com o avanço da tecnologia e demanda de produção do século 19, os padrões foram se alterando e acordar no meio da noite passou a ser visto como o que chamamos hoje de insônia.

Parte da culpa para os novos hábitos pode ser atribuída à invenção da lâmpada, por Thomas Edison. Em lugares com eletricidade, a iluminação artificial prolongava a exposição à luz, permitindo uma produção por muito mais tempo. Ao mesmo tempo, deixava a noite mais curta, fazendo com que não houvesse tempo para duas blocos de sono separados.

No início dos anos 90, o psiquiatra Thomas Wehr realizou um experimento laboratorial que consistiu na exposição de um grupo de pessoas a curtos períodos de luz. Isso significa que eles foram colocados em períodos de escuridão de cerca de 14h por dia, ao invés das 8h típicas.

Analisando o grupo por um mês, Wehr percebeu que a sono em duas fases é o padrão mais natural para as pessoas e, na verdade, oferece benefícios ao invés de ser considerado uma forma de insônia. Ele também percebeu que a maioria dos adultos modernos possuem problema de falta de sono em suas rotinas, o que explicaria porque pegamos no sono em apenas 15 minutos ou nos esforçamos para manter o sono sem interrupção.

Por mais que o sono em duas fases seja natural, o ritmo de vida que a maioria das pessoas leva hoje em dia não permite essa flexibilidade. Caso você consiga reorganizar a sua rotina, no entanto, a estratégia pode oferecer melhores períodos de atividade, criatividade e alerta ao longo do dia, ao invés de ter um longo período de sono que faz com você precisa construir a produtividade ao longo do dia.

Para apoiar a teoria, existe muita evidência de pesquisas que sugerem que os cochilos podem ter importantes benefícios na memória e aprendizado, melhorando nosso humor e disposição. Alguns acreditam que a os distúrbios de sono, como a dificuldade para manter o sono ininterrupto, podem ser apenas uma disposição natural para a divisão do sono e talvez essa seja a opção apropriada para a rotina.

Em outras palavras, se você acorda no meio da noite com frequência, não necessariamente precisa se preocupar com isso. Se você não luta contra a condição e aproveita o melhor dela, é possível que volte a dormir naturalmente dentro de algumas horas, aproveitando o momento em que está acordado.

É claro que se a condição está te atrapalhando ou acontece com mais frequência do que deseja, pode ser importante consultar um especialista. Nem sempre a condição pode ser reflexo de uma suposta disposição natural, mas se apresenta com o resultado de outros problemas relacionados ao ronco e à apneia do sono, por exemplo.  

Fonte: http://clikado.com.br/coluna/72/esse-estranho-habito-do-passado-mostra-que-podemos-estar-dormindo-errado-a-vida-toda

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