A ação das drogas no cérebro

  

Como 10 drogas lícitas (e ilícitas) agem no seu cérebro

Não importa se ela é natural ou sintetizada em laboratório. Cada droga age de uma maneira específica. Veja a seguir como algumas delas atuam no nosso cérebro

Por Marina Demartini 

1. Drogas

Basta uma pílula para transformar o seu mundo em um caleidoscópio psicodélico cheio de unicórnios saltitantes. Ou até mesmo um gole para que todos os músculos do seu corpo relaxem. É de senso comum que as drogas reagem de maneiras diferentes. No entanto, como elas realmente funcionam no cérebro? Porque algumas pessoas sentem-se alegres ao tomar LSD, enquanto outras enlouquecem? A galeria a seguir desvenda os mistérios relacionados às drogas (lícitas e ilícitas) e o cérebro humano. 

2. Maconha

A maconha não é legalizada no Brasil, apenas o uso controlado de medicamentos à base da planta são liberados. Mesmo assim, segundo um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 1,5 milhão de brasileiros fumam maconha diariamente e oito milhões já experimentaram. Mas o que essa erva tem que faz tantas pessoas a usarem? Ao contrário do álcool, a Cannabis sativa tem moléculas que se assemelham às produzidas em nosso cérebro, os canabinóides. Eles carregam o ingrediente ativo da maconha (THC) que se assemelha a um transmissor natural, a anadamida. Os canabinóides atingem o cérebro, causando liberação de dopamina, um neurotransmissor que ativa o sistema de recompensa do cérebro. Ela é a mesma substância química que nos faz sentir bem quando fazemos coisas prazerosas. 

3. Álcool

Segundo a OMS, quase 3% da população brasileira acima de 15 anos de idade é considerada alcoólatra. Parece pouco, mas essa porcentagem equivale a mais de 4 milhões de pessoas. Como outras drogas, as bebidas alcoólicas afetam a química do cérebro. Elas alteram os níveis dos neurotransmissores, ou seja, os mensageiros que controlam nosso pensamento e comportamento. Com essas substâncias “excitatórias” travadas pelo uso do álcool, a geração de ideias, a respiração e os batimentos cardíacos acabam sendo retardados.  Além disso, o álcool aumenta o poder dos mensageiros “inibidores”, que costumam acalmar o nosso cérebro. E, claro, tomar aquela cerveja no final do expediente também aumenta os níveis de dopamina, permitindo que o cérebro se sinta bem relaxado. 

4. Cocaína

A cocaína é uma droga que entra na corrente sanguínea rapidamente e bagunça o cérebro em questão de minutos. A primeira sensação gerada pelo consumo da droga é uma onda de euforia, por conta da liberação de dopamina no cérebro. Essa onda, no entanto, é curta, o que faz com que o usuário queira usar a droga novamente em um curto período. Uma das partes do cérebro mais afetadas pela cocaína é a memória. Uma pesquisa revelou que ratos que receberam doses contínuas dessa droga tiveram uma série de mudanças em uma região que contribui com a inibição e a tomada de decisão. 

5. Crack

O crack é uma droga derivada da cocaína, mas que deve ser fumada devido ao seu ponto de fusão. Ela causa a liberação de uma grande quantidade de dopamina, que dispara sensações de prazer pelo corpo, gerando euforia e estado de alerta. Tais substâncias são tão poderosas que chegam ao cérebro em apenas oito segundos. Geralmente, a dopamina é reabsorvida por neurônios, mas o crack bloqueia a absorção. Isso faz com que ela continue estimulando os receptores por 10 minutos. Após esse período, os níveis de dopamina caem tão rapidamente, que o usuário sente depressão profunda, irritabilidade e paranoia.  Além de tudo isso, em alguns casos, o uso de crack pode levar ao “delírio parasitário” – um sentimento de que insetos estão percorrendo a pele. Isso leva a um comportamento autodestrutivo do usuário com mordidas e arranhões no próprio corpo. 

6. LSD

LSD é a sigla de “Lysergsäurediethylamid”, palavra alemã para dietilamida do ácido lisérgico. Ela é uma droga de laboratório e foi sintetizada pela primeira vez em 1938, por acidente, pelo químico suíço Albert Hofmann. Em geral, alucinógenos afetam a área do cérebro responsável por regular humor, pensamentos e percepção. Além disso, eles também influenciam outras regiões que controlam o modo como reagimos ao estresse.  Entre os efeitos de curto prazo do LSD estão: impulsividade, mudanças bruscas de emoções, tontura e aumento da frequência de batimentos cardíacos. Usuários descrevem extensas "viagens" ao usar a droga. 

7. Café

A cafeína é a droga psicoativa mais utilizada no mundo. Um químico chamado adenosina acumula-se lentamente no cérebro quando estamos acordados. Esta substância liga-se a receptores que desaceleram a atividade cerebral. Assim, quanto mais adenosina acumulada, maior o cansaço. A cafeína possui uma estrutura parecida com a da adenosina. Ela percorre a corrente sanguínea até o cérebro e compete por espaço com a adenosina. Ela se liga aos receptores, o que não permite que uma pessoa sinta sono. Com o uso frequente de cafeína, o cérebro reage ao criar mais receptores de adenosina. O efeito é que o corpo passa a pedir uma maior quantidade de cafeína. A sensação da falta dela pode causar abstinência e maior cansaço.

No entando, a cafeína não é de toda ruim. Ela estimula a adrenalina no corpo, aumenta a frequência cardíaca e abre vias respiratórias. Ela também causa um sentimento de felicidade. Uma curiosidade é que é muito difícil ter uma overdose de cafeína. Uma pessoa de 70 quilos precisa tomar 70 copos de café simultaneamente para morrer. 

8. MDMA

O MDMA é geralmente ingerido em forma de pílula e é composto de química pura. Já o ecstasy é o termo usado para o MDMA que foi quimicamente modificado com outros aditivos, como anfetaminas ou cafeína. Esta droga afeta a atividade de três neurotransmissores: dopamina, noradrenalina e serotonina. Eles desempenham um papel crítico na manutenção do apetite e do humor, e seus efeitos duram de três a oito horas. Depois de algumas horas, o usuário sente depressão profunda e uma sensação de ressaca muito forte. Isso acontece por conta da destruição da serotonina. Um estudo de 2013 comparou usuários crônicos com aqueles que raramente usaram o MDMA. Segundo os pesquisadores, os usuários crônicos de MDMA obtiveram as menores pontuações em testes de memória e de aprendizagem. 

9. Heroína

A heroína é uma droga opióide sintetizada a partir da morfina, uma substância natural extraída da planta da papoula. Ela geralmente aparece como um pó branco ou castanho. Quando você injeta ou aspira a heroína, o cérebro a converte em morfina. Ela se liga às moléculas no cérebro e no corpo, chamados de receptores opióides, que afetam o modo como percebemos a dor e o sentido de recompensa. Isso explica o fato de que muitas pessoas ficam em um estado de euforia quando injetam a droga. Aliás, a sensação de prazer é tão intensa, que muitos a comparam a um orgasmo. Após uma injecção intravenosa de heroína, os usuários relatam sentir uma onda de alegria, acompanhado de boca seca, um rubor quente na pele, sensação de peso das extremidades e funcionamento mental lento. Seguindo essa euforia inicial, o usuário passa para um estado mental em que ele se sente acordado e sonolento ao mesmo tempo. Como nós temos receptores opióides no nosso tronco cerebral, o principal centro de controle do corpo, uma overdose de heroína pode retardar e até mesmo parar a respiração de uma pessoa. Como você deve imaginar, isso pode causar danos cerebrais, coma ou até mesmo a morte.

10. Cogumelos

Pode ficar calmo, o champignon que você come no strogonoff não é mágico. Na realidade, apenas cogumelos com o psicoativo psilocibina causam alucinações. Há pelo menos 144 espécies de cogumelos que contêm tal ingrediente psicoativo, segundo o Jornal Internacional de Cogumelos Medicinais. Mas o como a psilocibina provoca alucinações? Quando entra no cérebro, o psicoativo começa a prevenir a recepção do neurotransmissor serotonina e aumenta a atividade cerebral. Além disso, por ter uma estrutura química similar à serotonina, a psilocibina pode se conectar e estimular receptores no cérebro. Tal estimulação amplificada faz o usuário perceber e experimentar coisas sem nenhum estímulo real. As sensações podem ser visuais e auditivas, ou sentimentos místicos e profundos. Elas duram entre três e oito horas, mas podem parecer durar muito mais, já que a droga altera a noção de tempo. O psicoativo também atinge o hipocampo e o giro do cíngulo anterior, que estão associados com o ato de sonhar. Além disso, regiões específicas do cérebro são ativadas quimicamente pelo cogumelo, o que pode levar a uma sensação de consciência expandida. E como a droga altera temporariamente os caminhos do cérebro, pensar fora dos padrões se torna extremamente natural. 

11. Analgésicos

Os analgésicos produzem ações de insensibilidade à dor e são usados principalmente na terapia de dores crônicas. Eles bloqueiam a percepção de dor no cérebro a partir da ligação à receptores opiáceos. Isto acaba interferindo com os sinais transmitidos pelo sistema nervoso central para o cérebro. Existem vários tipos de analgésicos. Os narcóticos possuem um efeito depressor sobre o sistema nervoso central e diminuem a sensação de dor. Além disso, eles deixam o corpo e a mente mais relaxados. Eles se ligam a receptores opiáceos, que geralmente são vinculados à hormônios especiais chamados de neurotransmissores. Quando eles são utilizados durante um longo período de tempo, o corpo diminui a produção destes produtos químicos naturais e faz com que o cérebro não lute mais contra a dor de uma maneira natural.

Pesquisas recentes revelaram que há uma ligação preocupante entre a heroína e opiáceos analgésicos. Um relatório divulgado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, o CDC, descobriu que as pessoas que abusaram de opiáceos foram 40 vezes mais propensas a abusar de heroína. Uma das razões disso acontecer é que, segundo o estudo, ambas as drogas agem de maneira semelhante no cérebro. Apesar de ajudarem no dia-a-dia, o uso excessivo de analgésico pode causar alterações químicas no cérebro e matar algumas células cerebrais. As áreas mais afetadas do cérebro são as áreas que lidam com a memória, a cognição e a aprendizagem.  

Fonte: https://exame.abril.com.br/ciencia/como-10-drogas-licitas-e-ilicitas-agem-no-seu-cerebro/

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