Humanos?
Houve um tempo em que a popularização das plataformas de compartilhamento de fotos e de vídeos criaram a cultura das selfies, exacerbando o egocentrismo e a necessidade excessiva do visual impecável. Foi a época em que as interfaces se tornaram muito populares e ali sempre se mostravam imagens lindas, verdadeiros painéis de ilusões, fantasias e exibicionismo. O essencial era o visível aos olhos.
No mesmo período faziam muito sucesso os smartphones, parafernálias das quais os seres humanos utilizavam somente 30% dos recursos e, no entanto, tinha o poder de acompanhá-los por 24 horas, desde o despertar, durante as refeições, até o adormecer. Diz-se que elas monitoravam as pessoas. Ter uma delas era sinônimo de “estar conectado”, mas com o aumento da utilização da internet e das redes sociais, havia se disseminado um fenômeno chamado fake-news, com isso muitas vezes já não se sabia discernir se eram verdadeiros os conteúdos veiculados. Não bastava ver para crer.
Alguns poucos se davam conta de que estavam dentro de uma grande roda de ratos, devido ao efeito provocado pela obsolescência programada estimulada pela programação dos equipamentos combinada ao estímulo ao consumismo. Havia ainda as lojas de variedades que se espalhavam por todos os cantos das cidades, autênticos supermercados de supérfluos, bastava entrar em uma delas e encontrava-se em oferta tudo o que não precisavam para viver.
Estimulados pelo ultrapassado ideário neoliberal eles se tornaram individualistas e antipáticos, induzidos a competir de forma exagerada, desenfreada e muitas vezes prejudicial, principalmente naqueles setores em que existia incentivo e pressão para produzir resultados ou superar uns aos outros.
Quando se sentiam solitários ou carentes, eles recorriam aos aplicativos de encontro. Atrás de um clique poderia estar a outra metade da laranja. Os usuários só deveriam ter o cuidado de não se deixarem levar pelas aparências. Marcar um encontro em local público era um recurso seguro, pois não se sabia quem o estaria aguardando.
Uma das principais características da época, em grande parte aos avanços tecnológicos e à globalização era o culto à rapidez, que invariavelmente trazia problemas, como por exemplo, provocava estresse, ansiedade e levava à falta de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Também induzia a um ritmo insustentável que era chamado de “tudo para ontem".
Executar as atividades sem muita atenção, reflexão ou consciência também era uma forte característica, eles seguiam hábitos e rotinas de forma mecânica, pareciam estar o tempo todo desligados ou fazendo as coisas automaticamente. Diz-se que, não por acaso, naquela época floresceram os streamings cujos personagens eram os zumbis.
O ser humano surgiu há três milhões de anos no planeta, desenvolveu a aptidão de resolver problemas complexos, criou e transmitiu conhecimento, cultura e tecnologia e denominou-se animal racional. Longe de traduzir uma virtude, o adjetivo mostrou-se apenas uma possibilidade. Ao voltarmos um pouco no tempo compreendemos por que o Pequeno Príncipe e São Tomé estão esquecidos.
Talvez nesta vida nova, devêssemos resgatar a essência e a verdade como guias de conduta, como havia sido, antes do colapso total, há muitos e muitos anos, quando Deus ainda vivia entre os homens.
nov.23