Já é Natal
Um ano se passou e mais uma vez é Natal. Época das luzes cintilantes povoarem as cidades. Estabelecimentos comerciais e edifícios exibem suas fachadas iluminadas. Algumas casas mostram árvores enfeitadas enquanto outras permanecem na sombra, marcadas pela escassez, são as testemunhas das desigualdades sociais.
Em um destes bairros reluzentes, onde as casas são preenchidas pelo riso de crianças abrindo presentes, a atmosfera natalina se impregna de alegria e fartura. Famílias se reúnem em torno de mesas abastadas, trocam presentes e sorrisos e se entregam ao espírito natalino. Contraditoriamente, a poucos quilômetros dali, em um bairro esquecido pelas luzes da prosperidade, a realidade não é a mesma.
Do interior de seu modesto barraco de madeira, Madalena olha o horizonte pelo vão da janela e vê as luzes artificiais mescladas com o brilho das estrelas. Seu olhar se perde no brilho das ruas não muito distantes dali, onde as famílias trocam presentes com embrulhos reluzentes. Refletindo, ela gostaria que as coisas fossem bem diferentes. Na sala sombria de seu barraco pesa uma tristeza silenciosa.
Como tantos outros de sua comunidade, Madalena enfrenta muitos desafios diariamente para colocar comida na mesa. E esta época, apesar da aura festiva para alguns, para ela só aumenta a pressão. As crianças que, não muito tempo atrás haviam feito seus desejos, perguntam do tal do Papai Noel e da ceia de Natal. Ah, se não existissem as propagandas...
Mas em algum cantinho do planeta, afastado das luzes e das sombras há um outro espírito de Natal. Muitas pessoas se reúnem voluntariamente em instituições comunitárias dedicando seu tempo organizando coletas para ajudar aqueles que enfrentam dificuldades. Mostrando que ali o Natal não se mede por embrulhos caros, mas pela aura de solidariedade que se compartilha.
A dualidade natalina se espalha pelas ruas da cidade, se de um lado há abundância, de outro se luta pela sobrevivência. Todavia esta época nos brinda uma oportunidade ímpar de reflexão. Para além do aspecto material, já é tempo de encararmos o Natal como a celebração de empatia, solidariedade e comunhão para o enfrentamento das desigualdades.
Adentra-se a noite, luzes coloridas e brilhantes se mesclam com as sombras, formando uma complexa tapeçaria com vários tons de experiencias.
Que neste Natal não nos esqueçamos das disparidades. Que possamos despertar para a necessidade de buscar maneiras de promover uma celebração mais inclusiva e solidária, essencial na mitigação dos impactos negativos das desigualdades sociais. Este sim, um verdadeiro espírito natalino.
dez.23