As palavras perdidas nos reencontram

  

Era para ser apenas mais uma daquelas manhãs de verão. Após seu desjejum, Stephen ligou o computador e começou a googlear livremente em busca de algum tema interessante para o seu blog. Repentinamente uma palavra brilhou-lhe aos olhos. Dvoryane não era uma palavra comum. Não conhecia seu sentido, no entanto teve a sensação de reconhecê-la. A memória situou-lhe, havia ouvido há muito tempo, da boca de um primo, que seu avô havia dito ser um deles. Estranhas estas velozes conexões entre o que o olho vê e alguma parte da memória, pensou intrigado.

Curioso, buscou o sentido. Encontrou dentre os vários, aquele ao qual seu primo se referia. Imediatamente conectou as lembranças que lhe restavam de seu avô com o significado recém descoberto. Recordou-se das vezes que juntos saíram, das histórias que ouviu e que mais tarde sua mãe lhe revelaria serem mentiras.

Mais uma delas, pensou.

Seu olhar abandonou o monitor e buscou a janela lateral. Como uma flecha, atravessou ruas, passou entre árvores e edifícios, dos mais próximos aos mais longínquos à procura de um horizonte. Na mesma velocidade seu pensamento foi lançado em direção ao passado.

Fixou-se no distante azul celeste e deteve-se na infância. Ressuscitou as próprias mentiras. Ainda que infantis, descobriu rapidamente suas razões. Conexões e sentidos inéditos, agora sabia o porquê de algumas delas... Tempos idos, adultos não tinham a menor ideia de como influenciam os comportamentos das crianças, concluiu.

Ainda seremos imprudentes?, perguntou-se quase surpreendido, num susto.

fev.24