Estamira
Estamira, filme de Marcos Prado (2006), conta a história de Estamira, uma mulher que sofre de transtornos mentais, vive e trabalha, há mais de 20 anos, em um aterro sanitário. Uma pessoa de olhar e expressão de quem já sofreu muito ao longo da vida, uma mulher de vida árdua, que fala sozinha, ouve vozes e, quando se refere a Deus, o faz com catarse, proferindo inúmeros palavrões. Trata-se de uma figura muito carismática e respeitada no extinto lixão da capital carioca. Sua história é marcada por violência e rupturas, dentre elas: os estupros, a prostituição, as traições vivenciadas em seus dois casamentos, o distanciamento de sua filha mais nova, a dependência alcoólica e o fato de ter sido moradora de rua. Ao assistir o documentário, pode-se acompanhar o seu tratamento psiquiátrico na rede pública: os médicos a diagnosticam como portadora de quadro psicótico de evolução crônica, alucinações auditivas, idéias de influência e discurso mítico. As filmagens duraram quatro anos, sendo que o início da produção coincide com o começo do tratamento psiquiátrico; assim, o filme retrata e acompanha as mudanças de comportamentos e as mudanças do discurso da personagem, provavelmente em consequência dos efeitos (colaterais) dos medicamentos, que toma diariamente.