A codependência química também é uma doença?

   

Dependência Química e Codependência

Por Felipe Simões da Matta 

É necessário aprender a abrir mão do dependente químico sem abandoná-lo. 

Nos dias de hoje os assuntos em torno da temática “drogas” estão em alta. Muito se fala sobre as consequências que o uso abusivo de drogas e a dependência química causam ao usuário, como problemas de saúde física e emocional, problemas sociais, problemas com a lei, entre outros. Mas, sabe-se também que as pessoas envolvidas com usuários abusivos e dependentes químicos, especialmente familiares e amigos, também são afetadas de várias formas.

Seja pelo sentimento de impotência por não saber como auxiliar o dependente químico, ou ao perceber que o seu amor e cuidado não são suficientes para que este deixe de fazer uso da substância da qual é dependente. As pessoas que possuem uma forte ligação emocional com o dependente químico, geralmente familiares próximos, são as mais afetadas. É também no contexto familiar do dependente químico que se desenvolve a codependência. Inicialmente o termo codependência se referia a uma espécie de policiamento compulsivo da esposa com relação ao marido alcoolista, ampliando-se com o crescimento das dependências químicas nas últimas décadas.

Atualmente, a codependência é compreendida como a tendência de viver focado no dependente químico, alienando-se de si mesmo. São apresentados comportamentos como minimização de problemas, tentativas de controlar, proteger e assumir a responsabilidade e as consequências dos atos do dependente químico. A codependência pode ser vivenciada por homens, mulheres, podendo ocorrer entre casais, ou na relação de pais com seus filhos, irmãos, relações de amizade, não estando restrita a familiares de dependentes químicos.

A codependência se caracteriza por um distúrbio acompanhado de ansiedade, angústia e compulsão obsessiva em relação à vida do dependente químico. Pode-se dizer que familiares codependentes também apresentam uma forma de dependência, não de substâncias, mas sim do vínculo com o dependente químico. O codependente tem a intenção real de ajudar. Mas seu esforço tem pouco resultado. Pois o dependente químico acaba utilizando todo o potencial de ajuda que recebe do codependente para usar a droga. Desta forma o codependente acaba sendo um administrador de crises. Enquanto o sistema permanecer instável, os problemas e crises são administradas pelo codependente, e o dependente químico tem condições de continuar o uso de drogas.

O codependente, em sua relação com o dependente químico, mantém o mesmo padrão de dependência que o dependente químico mantém com a droga. Na codependência, o cuidar e controlar o outro se tornam prioridade e há um desejo irresistível desses cuidados e controles. Como ocorre na dependência química, com a síndrome de abstinência, o codependente sem alguém para cuidar sente-se vazio, irritado e muitas vezes deprimido. Sendo que muitos, ao terem reconhecido sua codependência e estando a tratá-la, tem grandes chances de recaídas. Tem-se observado nos atendimentos a codependentes que, muitos deles, ao terem perdido um companheiro ou familiar dependente químico, acabam encontrando e firmando laços com outro.

Na relação entre dependente químico e codependente, ambos fazem uso do outro para realizar suas próprias necessidades. O codependente tem a sua realização pessoal no papel de cuidador, que lhe dá um motivo para a existência. E o dependente químico encontra no codependente proteção, amparo e alguém para depositar as culpas e responsabilidades.

Assim como no tratamento da dependência química, o codependente somente pode iniciar a modificação de seu relacionamento patológico com o dependente químico a partir do reconhecimento desta compulsão. O codependente precisa perceber e reconhecer que seu relacionamento com o dependente químico é patológico, e que seus esforços em ajudá-lo e protegê-lo estão fadados ao fracasso. Ao tratar a codependência, o familiar perceberá que não é responsável pelo uso de drogas do dependente químico e que a tão desejada sobriedade depende deste. É necessário aprender a abrir mão do dependente químico sem abandoná-lo!

O reconhecimento e tratamento da codependência também é fundamental no tratamento do dependente químico. Em muitos casos o auxílio ao dependente químico inicia com o tratamento dos familiares. E estes, ao compreenderem e tratarem a codependência têm grandes chances de, com uma nova postura, auxiliarem o dependente químico de maneira efetiva. Recomenda-se como tratamento e acompanhamento aos familiares de dependentes químicos a participação em grupos de mútua ajuda, assim como acompanhamento psicológico.  

Fonte: http://www.cerene.org.br/artigos/5/dependencia-quimica-e-codependencia

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