O que dizem os estudos que comparam ler no Kindle e em papel
De um lado, a praticidade da pesquisa por termos, do acesso rápido, da ubiquidade. Do outro, o feedback tátil, maior facilidade para focar e a familiaridade de centenas de anos. Hoje a Amazon começou a vender livros físicos no Brasil, o que torna desse um bom momento para retomarmos a discussão papel x bits. Não que eles sejam mutuamente exclusivos; e-books e livros impressos podem conviver lado a lado. Mas quando eles colidem, qual se sai melhor?
Sobram estudos comparativos que tentam elucidar essa questão e eles não devem cessar tão cedo. O último, liderado por Anne Mangen, da Universidade de Stavanger, na Noruega, deu uma história curta de Elizabeth George a 50 leitores. Metade leu as 28 páginas dela em papel, metade, no Kindle. Depois, quando perguntados sobre a história, ambos os grupos se saíram bem ao relembrarem aspectos como personagens, objetos e outros detalhes. O grupo do papel, porém, ganhou em um: na reconstituição da ordem cronológica de 14 eventos da história.
Para Anne, o bom desempenho dos leitores de papel se deve ao fato de que o livro oferece um feedback tátil e mais evidente de progresso. Na medida em que avançamos na leitura, o lado esquerdo do suporte (o livro) cresce em volume e o direito, diminui. Em dispositivos digitais isso se perde e as alternativas para compensar a diferença, como barras de progresso, não exercem o mesmo efeito sobre a nossa memória espacial.
A amostragem da pesquisa é pequena e, importante notar, apenas dois dos 25 leitores do Kindle tinham familiaridade com o dispositivo. De qualquer forma, estudos passados reforçam a tese de que existem, sim, diferenças entre as experiências. Numa longa reportagem publicada na Scientific American de abril de 2013, Ferris Jabr faz uma compilação deles.
Cada passo dado pela tecnologia no sentido de aperfeiçoar os suportes digitais para leitura visa diminuir esse intervalo cognitivo que existe em relação ao livro impresso. As telas de e-ink, sem retroiluminação, e o aumento notável da resolução ajudaram a tornar a leitura digital mais fluída.
Mais estudos estão sendo feitos para entender o impacto dessa mudança de hábito na nossa cognição. Eles extrapolam essa questão, inclusive; ao Guardian, Anne disse que alguns pesquisadores têm estudado a relação entre tipos de textos e a melhor forma de lê-los. Talvez um calhamaço de 500 páginas com enredo intrincado e cheio de personagens seja mais indicado ao papel, mas uma história menos exigente e com elementos interativos pode se tornar mais atraente quando digitalizada. Como Jabr conclui, “texto [escrito] não é a única forma de ler”.
Fonte: http://www.manualdousuario.net/estudos-ler-kindle-papel/