O Bliss Point e Seu Impacto nos Alimentos Processados
O bliss point (ponto de êxtase) é um conceito da ciência alimentar que se refere à combinação ideal de açúcar, sal e gordura que maximiza o prazer sensorial, tornando os alimentos processados altamente palatáveis e viciantes. Esse termo foi popularizado pelo jornalista Michael Moss em seu livro "Salt Sugar Fat" (2013), que explora como a indústria de alimentos manipula esses ingredientes para criar produtos irresistíveis. O bliss point é calculado com base em testes sensoriais e pesquisas de consumo, garantindo que os alimentos ativem os centros de recompensa do cérebro, incentivando o consumo excessivo.
A ciência por trás do bliss point está ligada à neurobiologia do prazer. Quando consumimos alimentos ricos em açúcar, sal ou gordura, nosso cérebro libera dopamina, um neurotransmissor associado à sensação de bem-estar. Moss (2013) destaca que as empresas alimentícias investem milhões em pesquisas para encontrar a fórmula perfeita que estimule essa resposta biológica, muitas vezes às custas da saúde pública. Esse fenômeno explica por que é tão difícil resistir a certos alimentos ultraprocessados, como refrigerantes, salgadinhos e doces.
Além do aspecto sensorial, o bliss point tem implicações preocupantes para a saúde global. O consumo excessivo de alimentos projetados para atingir esse ponto está associado ao aumento de doenças crônicas, como obesidade, diabetes e hipertensão. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2020), o marketing agressivo de produtos ultraprocessados, especialmente para crianças, contribui para a epidemia de má nutrição. A indústria, no entanto, argumenta que oferece escolhas aos consumidores, minimizando sua responsabilidade.
A regulação do bliss point é um desafio para governos e agências de saúde. Alguns países, como México e Chile, implementaram impostos sobre bebidas açucaradas e advertências em embalagens para reduzir seu consumo. No entanto, as empresas frequentemente reformulam seus produtos para manter o apelo sensorial enquanto contornam as regulamentações. Como observa Moss (2013), a indústria alimentícia prioriza o lucro em detrimento da saúde pública, tornando necessárias políticas mais rigorosas e educação nutricional.
Em conclusão, o bliss point ilustra como a ciência e o marketing são usados para criar alimentos hiperpalatáveis, mas nocivos. Enquanto os consumidores buscam prazer imediato, as consequências a longo prazo são graves. Combater esse problema exige uma abordagem multifacetada, incluindo regulamentação, conscientização e incentivo a hábitos alimentares mais saudáveis. A obra de Moss (2015) permanece essencial para entender como a indústria molda nossas escolhas alimentares.
Referências:
MOSS, M. Sal, açúcar, gordura: Como a indústria alimentícia nos fisgou. Editora Intrínseca. 2015
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Guideline: Sugars Intake for Adults and Children. Genebra, 2020.
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