Você já ouviu falar em cognição incorporada?
Corpo interpreta pensamento abstrato de forma literal
A teoria da relatividade nos mostrou que o tempo e o espaço estão interligados - ao que nosso cérebro sabichão poderia bem responder: "Diga algo que eu não sei, Einstein". Pesquisadores da Universidade de Aberdeen descobriram que quando pessoas foram solicitadas a participar de uma pequena viagem mental no tempo e relembrar eventos passados ou imaginar acontecimentos futuros, o corpo dos participantes interpretava as metáforas embutidas em como nós normalmente conceitualizamos o fluxo do tempo.
Enquanto pensavam nos anos passados, os participantes se inclinavam levemente para trás; quando fantasiavam sobre o futuro, eles se inclinavam para frente. Esses desvios não eram tipo a Torre de Pisa, mas correspondiam a 2 ou 3 milímetros para uma direção ou outra. No entanto, a direção era clara e consistente. "Quando falamos sobre o tempo, muitas vezes usamos metáforas espaciais, como 'Espero o momento de poder te ver', ou 'Estou refletindo sobre o passado'", disse Lynden K. Miles, que conduziu o estudo com seus colegas Louise K. Nind e C. Neil Macrae. "Foi gratificante para nós tomar um conceito abstrato como o tempo e mostrar que ele foi manifestado em movimentos corporais."
O novo estudo, publicado em janeiro no jornal "Psychological Science", faz parte de um campo imensamente popular chamado cognição incorporada, a ideia de que o cérebro não é a única parte do nosso corpo com uma mente própria. "A forma como processamos informação está relacionada não apenas aos nossos cérebros, mas ao nosso corpo inteiro", disse Nils B. Jostmann, da Universidade de Amsterdã. "Usamos todos os sistemas disponíveis para chegar a uma conclusão e compreender o que está acontecendo".
Frio e calor
Pesquisas sobre cognição incorporada revelaram que o corpo leva a linguagem ao coração e pode ser terrivelmente literal. Dizemos que uma pessoa é calorosa e adorável, o oposto de fria e distante, não é? Num estudo recente de Yale, pesquisadores dividiram 41 estudantes universitários em dois grupos e casualmente pediram que os membros do Grupo A segurassem uma xícara de café quente, enquanto os do Grupo B seguravam café gelado. Os estudantes foram então levados a uma sala de testes e solicitados a avaliar a personalidade de um individuo imaginário com base em algumas informações.
Estudantes que tinham segurado a bebida quente tiveram muito mais probabilidade de julgar o personagem fictício como caloroso e amigável do que os que tinham segurado o café gelado. Ou talvez você já tenha sentido o vento frio da exclusão social. Quando pesquisadores da Universidade de Toronto instruíram um grupo de 65 estudantes a se lembrar de um momento em que se sentiram socialmente aceitos ou socialmente desprezados, os que tiveram memórias de rejeição disseram que a temperatura da sala estava 2,8ºC, em média, mais fria do que os que tinham sido embalados por pensamentos calorosos envolvendo a aprovação dos colegas.
O corpo incorpora abstrações da melhor forma que conhece: fisicamente. A baixeza moral, um lapso ético, nada mais é do que uma mancha no caráter de um indivíduo. Um momento para os Lencinhos de Limpeza Lady Macbeth. Um estudo mostrou que os participantes solicitados a refletir sobre uma transgressão moral pessoal, como adultério ou colar numa prova, tiveram maior tendência a pedir um lenço anti-séptico do que os participantes instruídos a relembrar boas ações que fizeram.
Quando confrontado com uma palavra ou expressão de duplo sentido, uma bifurcação verbal na estrada, o corpo considera o conselho de Yogi Berra. Num relatório publicado no último mês de agosto no "Psychological Science", Jostmann e seus colegas Daniel Lakens e Thomas W. Schubert exploraram o nível no qual o corpo combina peso e importância. Eles descobriram, por exemplo, que quando estudantes ouviam que determinado livro era vital para o currículo, eles achavam que o livro era fisicamente mais pesado. Estudantes que ouviam que aquele livro tinha importância secundária para os estudos achavam o livro mais leve.
Os pesquisadores queriam saber se a sensação de peso poderia influenciar o julgamento das pessoas de forma mais ampla.
Numa série de experimentos, participantes foram orientados a responder questionários anexados a uma prancheta de metal com um compartimento na parte de trás capaz de armazenar papéis. Em alguns casos, os compartimentos estavam vazios, e a prancheta pesava apenas 658 gramas. Em outros casos, os compartimentos continham papéis, e a prancheta pesava 1,039 quilo.
Os participantes seguravam uma prancheta leve ou pesada, enquanto respondiam a uma entrevista. Uma solicitava que eles calculassem o valor de seis moedas estrangeiras pouco conhecidas. Outra pedia que os alunos indicassem a importância de um comitê da universidade levar em conta suas opiniões na hora de decidir o valor de bolsas concedidas a estudantes estrangeiros. Para um terceiro experimento, os participantes foram questionados sobre seu grau de satisfação com (a) a cidade de Amsterdã e (b) o prefeito de Amsterdã.
Em todos os estudos, como sugerem os resultados, o peso da prancheta influenciou. Os alunos que seguravam a prancheta mais pesada achavam que as moedas estrangeiras eram mais valiosas do que aqueles com as pranchetas mais leves. Os participantes com pranchetas mais leves insistiam que os estudantes deveriam ter peso maior na hora de decidir sobre as questões financeiras da universidade. Os que seguravam a prancheta mais pesada adotaram um estado mental mais rigoroso, e se mostraram mais prováveis a considerar as conexões entre a habitabilidade de Amsterdã e a eficácia de seu líder.
Evolução
Segundo Jostmann, a prontidão do corpo em levar em conta fatores físicos na sua deliberação sobre temas aparentemente não relacionados e altamente abstratos muitas vezes faz sentido. "A questão de como os humanos veem a gravidade é útil evolutivamente", disse ele. "Uma coisa pesada significa que devemos cuidar dela", continuou. "Coisas pesadas não são facilmente transportadas, mas podem facilmente nos intimidar".
O corpo em reflexão prefere uma abordagem mais prática e a gesticulação mostrou que pode ajudar crianças a aprender matemática. Entre alunos que tinham dificuldade com equações do tipo 4+5+3=x+3, por exemplo, o desempenho melhora acentuadamente se eles são ensinados os gestos certos: agrupar os números do lado esquerdo com dois dedos na forma de um "V", depois apontar o indicador para o espaço em branco à direita.
Para aprender como rodar um objeto mentalmente, primeiro tente uma mímica. "Se você motivar as crianças a fazer o movimento de rotação com as mãos, isso as ajuda a fazer o movimento na cabeça", disse Susan Goldin-Meadow, da Universidade de Chicago "Simplesmente assistir aos outros não é suficiente".
Podemos nos lamentar sobre ontem; o amanhã é apenas hipótese. Mas você sempre pode ouvir seu corpo e viver o momento intensamente.
Fonte: http://www.sissaude.com.br/sis/inicial.php?case=2&idnot=4947