O suicídio como escape do eu. Os seis passos que levam a um suicídio.

Por Pablo Malo, psiquiatra e membro da Txori-Herri Medical Association.

O suicídio de Robin Williams aumentou a preocupação pelo tratamento da depressão e a prevenção do suicídio. A par deste acontecimento, Jesse Bering, professor da Universidade de Otago na Nova Zelândia, num artigo no Scientific American, tenta compreender o desejo de acabar com a própria vida e diz que, em sua opinião, a teoria que melhor captura a mente de um suicida é a de Roy Baumeister, que considera o suicídio como um escape do eu. Baumeister em seu artigo “Suicide as Escape from the Self” publicado em 1990 na “Psychological Review” postula que existem seis passos que conduzem ao suicídio e se algum deles não ocorrer, não se produzirá o suicídio; mas se os seis estiverem presentes, tentar evitar o suicídio é tão inútil como pretender que uma pessoa no ponto mais alto da excitação sexual tente frear o orgasmo.

Então, vamos fazer uma viagem dentro da mente suicida, pelo menos como ela é vista por Roy Baumeister, e conhecer os seis passos que levam ao suicídio:

1- Um fracasso, um desengano, não se cumprem as expectativas.

Convém assinalar que a taxa de suicídio é mais alta nos países mais prósperos, nos estados dos EUA com mais qualidade de vida, nas sociedades avançadas que defendem as liberdades individuais, nas áreas com melhor tempo e nos estudantes que tem boas notas e pais com altas expectativas. A pobreza por si mesma, por exemplo, não é um fator de risco para o suicídio. Mas sim passar de uma relativa prosperidade para a pobreza. Ou seja, as discrepâncias entre as expectativas e a realidade percebida é que aciona o suicídio, como costuma se dizer, quanto maior a subida, maior a queda.

2- Atribuições internas: culpar a si mesmo pelo fracasso.

Se uma pessoa culpa aos fatores externos pelo fracasso, não se suicidará. Também assinala Baumeister que uma autoestima baixa crônica não é o maior fator de risco, senão uma recente demonização do eu em resposta a uma série de eventos negativos.

3- Um estado aversivo de autoconsciência.

A pessoa se percebe como não sendo atraente, incompetente, mal e culpável. Mas a essência deste estado é a comparação de si mesmo com alguns padrões, que pode ser a própria pessoa em uma época melhor ou as pessoas com sucesso em seu entorno. Um dado interessante é que nos textos das mensagens de suicídio predomina a primeira pessoa do singular (eu) e raras vezes aparecem os pronomes no plural (nós). Para um suicida, a família e os amigos estão a quilômetros de distância.    

4- Um afeto negativo, um mal-estar emocional.

O suicida que percebe que algo não vai bem com ele experimenta ansiedade, depressão, culpa e vergonha. Como dizíamos, o eu se vê como negativo, surge um grande mal-estar e o que o sujeito busca é o esquecimento, a perda da consciência. Para isto só existem três caminhos: as drogas, o sono ou a morte, sendo a última a grande anestesia da natureza, a mais definitiva.

5- Desconstrução cognitiva.

O suicida tenta escapar fugindo em direção a um estado de adormecimento por meio de uma desconstrução cognitiva, um conceito proposto por Robin Wallacher e Daniel Wegner. Se rompem as coisas cognitivamente em seus elementos básicos. Por exemplo a perspectiva do tempo do suicida muda de maneira que o momento presente parece interminável: o presente é doloroso e quando, depois de um tempo, olha o relógio se surpreende que se passou muito pouco tempo. Também há evidencia de que não podem pensar bem acerca do futuro. Por isso ameaça-los, por exemplo, que irão ao inferno não tem muito efeito porque o futuro não lhes importa. Baumeister crê que este estreitamento temporal é em realidade um mecanismo defensivo para não pensar nas falhas do passado nem num futuro sem esperanças.  Outro aspecto desta desconstrução cognitiva é o aumento do pensamento concreto. Nas cartas dos suicidas existem poucas palavras abstratas e sobre pensamentos. Pelo contrário, existem instruções muito concretas como: não esqueça de alimentar o gato, e referências a objetos concretos do entorno.

6- Desinibição.

A maioris das pessoas tem uma inibição ou medo de machucar-se. Baumeister cre que a desconstrução cognitiva que comentamos acima tem como consequência uma desinibição na conduta e já não se pensa na própria dor, nem nos entes queridos, nem nas outras possibilidades. Também é verdade que nesta última fase muitos suicidas recorrem ao álcool ou a outras drogas para favorecer esta desinibição.  

Estes são os seis passos. A motivação, segundo Baumeister, é escapar do eu, da autoconsciência, o esquecimento. Na fase da desconstrução cognitiva, o sujeito tem distorções cognitivas e crenças irracionais. A fantasia mais extrema é a de escapar do eu convertendo se em outra pessoa. Se perguntarmos aos suicidas se eles gostariam de ser outra pessoa, 20% deles respondem que sim, comparado a 0% dos controles.

É uma situação muito difícil, pela própria dinâmica que comentamos, mas talvez esta informação possa servir para que - se observar as mudanças que indiquem que estes padrões de pensamento podem estar acontecendo, em você ou em qualquer outra pessoa - você possa buscar ajuda.

Fonte: http://evolucionyneurociencias.blogspot.com.br/2014/08/el-suicidio-como-escape-del-yo-los-6.html

Para saber mais: 

http://blogs.scientificamerican.com/bering-in-mind/being-suicidal-what-it-feels-like-to-want-to-kill-yourself/

http://www.neurociencias.org.br/pt/552/suicidio/

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