Os perigos da má postura.

Perigo! Postura errada

Não é só dor nas costas. Várias doenças, de enxaqueca até pedra nos rins, são causadas por má postura. Para ter saúde você precisa aprender a sentar, ficar em pé e deitar do jeito certo.

Por: Denis Russo Burgierman

De que adianta uma dieta saudável se o estômago está espremido entre as costelas, o intestino amassado pelo tronco e os nutrientes tirados da comida não circulam porque as veias foram obstruídas por vértebras mal empilhadas? Ou, então, de que vale largar o cigarro quando o pulmão está tão esmagado que não sobra espaço para o ar puro? E para que serve, afinal, um corpo forte e musculoso se as juntas não funcionam e as costas doem a qualquer movimento?

Os médicos estão cada vez mais convencidos de que, sem uma boa postura, não dá nem para sonhar com um corpo saudável. “As evidências de que muitas doenças nos órgãos estão ligadas à posição do corpo tornaram-se incontestáveis”, afirma o pesquisador americano Donald Harrison, da Universidade do Sul da Califórnia. “Sabemos que enfermidades nos pulmões, rins e no estômago estão associados à coluna”, concorda o ortopedista Ronaldo Azze, da Universidade de São Paulo. “Não há mais dúvidas de que uma boa saúde depende também da postura.”

Partindo dessa idéia, uma nova geração de terapeutas brasileiros tenta resolver os problemas antes de eles virarem doenças. “É preciso que todos tenham consciência de sua postura”, afirma Carmela Romano, de São Paulo, praticante de ginástica holística, uma dessas novas terapias (veja na página 34) de reeducação corporal que atraem cada vez mais adeptos. Ou seja, se não quisermos sofrer depois, precisamos aprender a perceber quais ossos estão curvados, que músculos ficam tensionados e quais tendões estão sendo puxados cada vez que andamos, sentamos ou deitamos. Por isso, endireite o corpo e preste atenção no que você vai ler.

Órgãos precisam de espaço

Não fossem seus ossos, você se pareceria muito com um saco de batatas. O esqueleto serve para sustentar seu corpo em pé, mas não é só isso. É ele que mantém as veias esticadas, separa os pulmões do coração e segura o sistema digestivo no lugar. Enfim, sem ele não haveria espaço para nenhuma de suas engenhosas maquininhas internas funcionarem. Isso tudo, é claro, se cada osso estiver no lugar certo. Um corpo curvado, com ossos tortos, atrapalha mais do que ajuda.

Para começar, um sujeito que tem lordose, que é uma curvatura para dentro nas costas, ou escoliose, nome que se dá à coluna torta para o lado, simplesmente não consegue inflar completamente os pulmões. “Ele respira menos, por absoluta falta de espaço”, conta o psicólogo Pedro Prado, praticante de uma técnica de educação de postura chamada rolfing.

Como conseqüência, o sangue torna-se mais pobre em oxigênio. Não bastasse isso, circula com mais dificuldade. “Nossos tecidos são como esponjas”, compara o ortopedista e terapeuta de rolfing Fernando Bertolucci, de São Paulo. “Se ficamos curvados, as células se amontoam umas nas outras, espremendo a esponja. Daí o sangue não consegue entrar nelas.”

Como faltam oxigênio e nutrientes, o organismo acaba se enfraquecendo. A próxima vítima é o sistema imunológico, que se torna ineficiente. Por causa de uma coluna mal posicionada, temos então um paciente sujeito a todo tipo de doenças. Os outros órgãos também sofrem com a falta de espaço (veja alguns exemplos nos infográficos). Até os sentidos acabam prejudicados. “Um pescoço tenso demais atrapalha a visão porque não permite que a cabeça vire facilmente”, diz Prado. Resumindo: nada funciona direito.

Toda posição cansa depois de um tempo

Não existe uma única postura certa. “Todas elas geram dor”, afirma Raquel Casarotto, fisioterapeuta da Universidade de São Paulo. Algumas posições provocam menos desgaste (veja os infográficos), mas passar o dia inteiro sentado é sempre ruim. “Durante o trabalho, é preciso parar por 10 minutos a cada hora, para aliviar ossos e músculos”, recomenda Raquel.

As lesões por esforço repetitivo são contusões produzidas pela manutenção por muitas horas de uma posição inadequada. “Elas são a maior causa de invalidez provocada por doença adquirida no trabalho”, alerta a médica Maria Maeno, do Centro de Referência da Saúde do Trabalhador, em São Paulo. O melhor jeito de evitar problemas desse tipo é se obrigar a variar ao máximo a postura. Assim, nenhuma articulação, nenhum músculo ou tendão se desgasta em excesso.

Um conjunto delicado de articulações

A preocupação com a postura resulta da consciência de que todas as partes do corpo estão ligadas. Os músculos não são apenas feixes isolados. Eles fazem parte de grandes cadeias que podem conectar os pés à cabeça. “São como um elástico”, compara a fisioterapeuta Amélia Pasqual Marques, da Universidade de São Paulo. “Não adianta puxar uma ponta, que a outra cede. Temos que mexer em tudo ao mesmo tempo.”

Os ossos, do mesmo modo, estão presos uns nos outros. Por isso é inevitável que uma pisada torta acabe inclinando a bacia e, por fim, curvando a coluna. “Dores nas costas costumam ser reflexo de problemas em outros lugares”, diz Rogério Augusto Queiroz, que pratica, em Campinas, a terapia de postura que se chama osteopatia.

A regra de ouro é nunca forçar demais uma parte do corpo. O peso tem que ficar distribuído entre os ossos – ou seja, não pode apoiar-se sobre uma só perna, deixando a outra solta. A força tem que ser repartida entre os músculos, evitando tensionar em excesso uns e relaxar muito outros. Quando as costas ficam tensas, por exemplo, os músculos do abdômen acabam se soltando. Resultado: as vértebras se desgastam e a barriga, sem exercício, fica mole.

Uma única dica resume todas as outras no que se refere à boa postura: preste atenção. “Temos que aprender a usar apenas a energia necessária para nos movermos ou ficarmos parados – nem mais nem menos”, resume Ana Rosa Brocca, terapeuta da técnica eutonia. É tudo uma questão de aprender a distribuir o peso para resistir à gravidade (conheça as escolas de educação postural à direita). Assim, não há dúvida de que você vai evitar problemas sérios no futuro.

Fonte: http://super.abril.com.br/ciencia/perigo-postura-errada

Para saber mais:

Guia de Abordagens Corporais, Ana Rita Ribeiro e Romero Magalhães (organizadores), Summus Editorial, São Paulo, 1997.

Cadeias Musculares, Amélia Pasqual Marques, Editora Manole, São Paulo, 2000.

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