Por quê ler os clássicos é bom para o cérebro?

Para o cérebro, em matéria de literatura, ler os clássicos é melhor que ler os contemporâneos.

Por: Sergio Parra

Se no momento de escolhermos nossas próximas leituras esquecessemos por um instante nossos filtros estéticos e nossas preferências e só nos focassemos em quão serão intelectualmente (ou cognitivamente para ser mais preciso) enriquecedores, então deveriamos escolher os clássicos, ao invés da literatura contemporânea.

É ao menos o que sugere um experimento que foi conduzido por uma equipe de cientistas, psicólogos e estudiosos da língua, da Universidade de Liverpool e que consistiu em monitorar a atividade cerebral de um grupo de voluntários enquanto liam uma série de livros. Os clássicos lidos pertenciam às ilustres penas de Shakespeare, William Wordsworth e T. S. Eliot , entre outros.

Aparentemente, a varredura do cérebro não deixou dúvidas: os clássicos conseguiram estimular a atividade cerebral pois representavam um grande desafio, especialmente na compreensão das palavras antigas ou obsoletas. De fato, quando as obras foram adaptadas para uma linguagem mais moderna e efeito cognitivo suplementar se diluíu como que por magia.

O estudo também sugere que na poesia não se trata apenas de grupos de palavras bonitas ou de um recurso de muita pirotecnia que tem o apoio da elite intelectual, mas os versos aumentaram a atividade no hemisfério direito do cérebro, a área que é responsável pela memória autobiográfica, fato que permite refletir sobre as próprias experiências e enriquecê-las à luz do que lêem, como explica Philip Davis, professor de filologia Inglêsa e membro da equipe de pesquisa:

A poesia não é apenas uma questão de estilo. Trata-se também de profundas interpretações da experiência que acrescentam os aspectos emocional e biográfico ao cognitivo. Isso sem nos referirmos à beleza da poesia, é claro, mas pelo menos coloca a poesia rimada (não estamos nos referindo às rimas complexas) ao nível de uma atividade como o sudoku.

Outra evidência para adicionar à gama de experimentos já realizados a propósito de como a leitura e a escrita modificam a estrutura do cérebro a limites insuspeitados. Embora, aparentemente, um leitor tem o mesmo aspecto que um não leitor, ou mesmo de um analfabeto, pode-se dizer que um leitor é, com relação a uma pessoa que nunca aprendeu a ler, uma criatura que pertence a outra espécie.

Não existem apenas as diferenças estruturais no cérebro, mas os cérebros dos leitores habituais compreendem a linguagem de outra forma, processam de maneira diferente os sinais visuais; inclusive pensam e formam as lembranças de outra maneira, tal e como assinala a psicóloga mexicana Feggy Ostrosky-Solis: "tem sido demonstrado que o aprender a ler configura poderosamente o sistema neuropsicológico do adulto".

Os livros são o equivalente intelectual dos antibióticos, dos aditivos ou do ar condicionado. Eles são uma tecnologia capaz de diluir um pouco nossa humanidade “de linha de produção” e moldar nossos cérebros para alcançar territórios que há alguns séculos eram inatingíveis, como explica Nicholas Carr em seu livro “Superficiais”:

"Sem dúvida que muitas pessoas tinham cultivado uma capacidade de atenção sustentada muito antes da chegada do livro e até mesmo do alfabeto. O caçador, o artesão, o asceta, todos tinham que treinar seus cérebros para controlar e concentrar a sua atenção. A coisa notável sobre a leitura dos livros é que nesta tarefa se combinam a concentração profunda com um deciframento de texto e a interpretação de seu significado que envolvem actividade e eficiência de uma ordem mental muito considerável. A leitura de uma sequência de páginas impressas é valiosa não apenas pelo conhecimento que os leitores adquirem através das palavras do autor, mas pela forma com que estas palavras ativam e provocam vibrações intelectuais dentro de suas próprias mentes".

Fonte: http://www.papelenblanco.com/animacion-a-la-lectura/leer-a-los-clasicos-es-mejor-para-tu-cerebro-que-leer-a-los-contemporaneos