Assumir responsabilidades ou se vitimizar?

Auto-Vitimização: a profecia do próprio sofrimento

Por Izadora de Freitas Salvador.

Dizemos de auto-vitimização a capacidade do indivíduo de se colocar no papel de vítima ou de pessoa perseguida para assim conseguir anular críticas, opiniões ou objeções contra as quais não consegue argumentar. É um traço que aparece com muita frequência no discurso das pessoas que tendem a apresentar a fantasia de que não são responsáveis por nenhuma parcela do próprio sofrimento, sendo assim, estão sempre colocando a “culpa” de seus problemas no mundo externo.

A “vítima” confunde ideias com sentimentos, ideologias com pessoas, e no fundo revela a falta de capacidade em admitir que simplesmente pode estar errada. É uma espécie de desonestidade intelectual; geralmente, o que defende suas ideias se torna o grande vilão, e o que se vitimiza consegue adeptos que são exatamente como ele: “coitadinhos” de um sofrimento só faz sentido em sua teimosa imaginação. A auto-vitimização precisa de platéia para funcionar.

A expectativa que as pessoas apresentam em relação ao comportamento do outro em alguns momentos serão rejeitadas, e isso não acontece, contudo, porque sejamos “desafortunados’’, mas sim porque eles próprios, sem perceberem, se encarregam de cumprirem a profecia da eterna vitima.

Algumas das principais características desses auto-vitimizadores podem ser traduzidas no seguinte:

- Manipuladores pela chantagem emocional;

- Acreditam que necessita ser perseguido(a)s ou “salvo(a)s”;

- Acham que seus problemas são enormes ou “não tem outro jeito”;

- Se colocam na posição de indefeso(a)s ou incapazes;

- Se alimentam de culpa;

- Sabotam esforços de ajuda, se colocando em dependência;

- Se ressentem desta dependência;

Alguns fatores que contribuem para a construção e consequente cristalização da mentalidade de vítima, deve-se essencialmente à forma como a pessoa interpreta e se comporta diante obstáculos, equívocos ou divergências que se cruzam no seu caminho. O pensamento negativo, a baixo auto-estima e o sentimento de co-dependencia colaboram para a instalação do quadro. Assim, chegamos a conclusão de que a causa de tudo é negar ou não expressar nossos próprios sentimentos ou os dos outros e/ou não assumir responsabilidades e erros.

É interessante reforçar a ideia de que a maneira mais eficaz para superar a mentalidade de vítima é começar a assumir a responsabilidade por cada ação e circunstância na sua vida. Quando encaramos essa atitude positiva e construtiva, passamos a perceber que na vida temos sempre opção de escolha, ainda que nem sempre seja a que mais gostaríamos ou a necessária, existe sempre uma forma de encontrar a opção que melhor se encaixa perante as circunstâncias. Pois afinal de contas, você quer o melhor para a sua vida.

O objetivo da psicoterapia é justamente auxiliar o indivíduoa perceber que frequentemente exerce o papel de profeta do próprio infortúnio e que a saída para o abandono do comportamento auto arruinador está na quebra das fantasias de auto-vitimização e na adoção de uma postura mais responsável e mais madura perante a vida.

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