Stealthing: a mais recente forma de violência sexual

A perigosa moda sexual do ‘stealthing’, fenómeno da remoção do preservativo sem consentimento torna-se objeto de estudo que compara prática à violação.

Por Pedro Zagacho Gonçalves

Número crescente de mulheres e homens homossexuais relata que o parceiro retira o preservativo sem consentimento.

O fenômeno começou a ser estudado depois de um caso ter dado que falar na Suíça. Um homem conheceu uma mulher no aplicativo Tinder, os dois marcaram um encontro e tiveram relações sexuais. Durante o ato a mulher reparou que o parceiro tinha retirado o preservativo sem a avisar e sem esta dar consentimento. O homem acabou por ser condenado por violação, na primeira vez em que um caso semelhante foi julgado como tal.

Agora, têm surgido mais e mais casos e o fenómeno, apelidado de ‘stealthing’ (em português, dissimulação), foi objeto de estudo de uma investigadora da prestigiada universidade de Yale, nos EUA. Alexandra Brodsky, que publicou o estudo no Columbia Journal of Gender and Law, argumenta que se está "perante um cenário de violência de género", que constitui violação de várias leis civis e criminais. A advogada explica que quis investigar o fenómeno que se está a tornar moda ao perceber que muitas amigas "sofriam maus-tratos às mãos dos companheiros no âmbito das relações sexuais, mas que as agressões não eram reconhecidas no espectro comum da violência de género, baseando-se sim na misoginia e falta de respeito".

Brodsky falou com várias mulheres e homens homossexuais que lhe contaram muitas vezes a mesma história: estavam a ter relações sexuais e, quando davam por isso, o parceiro tinha tirado o preservativo. Todos falavam numa dissimulação e sentiam-se "violados" mas "não tinham o vocabulário para descrever o ato", daí o nome que a investigadora dá à prática, que tem vindo a assumir contornos preocupantes. A advogada descobriu que existem fóruns e comunidades online, nas redes sociais, em que é defendido que os homens "têm direito absoluto" em praticar o ‘stealthing’, com a justificação de que "estão a espalhar os seus genes".

Chega-se a partilhar conselhos e formas de realizar a prática para que a parceira ou parceiro só perceba no fim. "Os homens que defendem o ‘stealthing’ suportam a sua ideologia na supremacia masculina, em que a violência é um direito natural do homem. É muito grave. Quem vive este ato descreve a remoção não consensual do preservativo como uma ameaça ao seu corpo e uma afronta à sua dignidade. É como se lhes dissessem ‘Tu não tens direito a tomar decisões sobre a tua sexualidade.

Não és digno(a) da minha consideração", explica a investigadora. O estudo conta a história de Rebecca, uma mulher que sofreu de ‘stealthing’ às mãos do parceiro e que quis combater a prática. Agora dá conselhos numa linha de apoio a vítimas violência sexual. "As histórias começam todas da mesma maneira: ‘Eu não tenho a certeza se isto é violação, mas…’. E é. É o mais próximo da violação que pode haver. As vítimas são confrontadas com todas a repercussões do sexo sem preservativo não consensual. Gravidez, todo o rol de doenças e infeções sexualmente transmissíveis, incluindo HIV.

Para além disso, os sentimentos de confusão, vergonha, medo", defende Rebecca, ouvida pelo Huffington Post. Alexandra Brodsky reconhece que "a lei ainda funciona, muitas vezes, contra as vítimas de violência de género" e, por isso, defende um novo estatuto que inclua as vítimas de stealthing, para que se considere a prática como próxima da violação. "O meu objetivo com este artigo é a criação de um novo estatuto, a revisão da lei. É preciso criar vocabulário e por as pessoas a discutir o que aqui era tido como ‘sexo mau’, quando na verdade se trata de violência", conclui a investigadora. 

Fonte: http://www.cmjornal.pt/mundo/detalhe/a-perigosa-moda-sexual-do-stealthing?ref=HP_TickerCMAoMinuto

 

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