Os psicobióticos e as doenças mentais

 

Como "psicobióticos" usam as bactérias intestinais para tratar doenças mentais  

Os pesquisadores sabem há muito tempo que as bactérias que vivem em seu intestino podem "falar" com o seu cérebro. As bactérias ou micróbios intestinais, que coletivamente compõem o chamado microbioma intestinal, podem ter um impacto significativo no humor e na cognição – considerado pelos principais especialistas como uma nova fronteira na neurociência.

Agora, o desafio para os cientistas é aprender a manipular a comunicação intestino-cérebro para tratar as doenças psiquiátricas.

A maioria dos estudos anteriores sobre bactérias intestinais e saúde mental tem se concentrado nos probióticos. Vivas, "boas" bactérias que podem ser ingeridas através de alimentos como o iogurte, ou em forma de suplemento, têm apresentado efeitos antiansiedade e antidepressivo.

Mas em um recente artigo científico publicado na revista Trends in Neuroscience, psiquiatras de Oxford exortam a comunidade científica a olhar para os probióticos como uma classe mais ampla de "psicobióticos" – um novo termo científico que se refere a qualquer intervenção que tenha um efeito sobre a saúde mental por via de alterações no microbioma intestinal.

"Sugerimos que qualquer intervenção que tenha um efeito psicológico através de mudanças no microbioma do intestino é potencialmente uma psicobiótica", afirmou Philip Burnet, professor associado de psiquiatria na Universidade de Oxford e um dos autores do estudo, ao The Huffington Post em um e-mail. "Isso pode incluir a dieta e o exercício, ambos os quais afetam as comunidades bacterianas no intestino e influenciam o humor e a cognição."

Até agora, a pesquisa sobre psicobióticos ainda é preliminar. Estudos têm mostrado que o aumento da quantidade de bactérias "boas" no intestino pode reduzir os níveis de inflamação e cortisol, reduzir os sintomas de depressão e ansiedade, diminuir a reatividade ao estresse, melhorar a memória e até mesmo diminuir o neuroticismo e a ansiedade social. No entanto, a maioria destes estudos foi realizada em camundongos, e mais investigações em seres humanos são necessárias.

"Esses estudos nos dão confiança de que as bactérias intestinais estão desempenhando um papel causal em processos biológicos muito importantes que esperamos explorar com psicobióticos", disse Burnet em um comunicado. 

Por que tratar o cérebro com psicobióticos

Felizmente, alguns dos psicobióticos são comportamentos que você já pode ter, como o exercício, comer alimentos saudáveis ao intestino, como o iogurte natural e chucrute, ou manter uma dieta baixa em gorduras saturadas. De fato, é possível que os efeitos psicológicos positivos da dieta e do exercício sejam parcialmente mediados pelo microbioma.

Qualquer coisa que exerça um efeito psicológico, mediado pelo microbioma, é potencialmente um psicobiótico, de acordo com Burnet. Isso pode incluir coisas que têm um efeito negativo sobre a flora intestinal, incluindo alguns antibióticos, antidepressivos e antipsicóticos.

"Queríamos aumentar a conscientização sobre o potencial envolvimento das bactérias intestinais na modulação da função cerebral porque o crescimento e a perpetuação das comunidades microbianas no nosso intestino são influenciados por muitos fatores em nossas vidas", disse Burnet ao HuffPost. "O conceito de um psicobiótico nos encorajará a fazer escolhas de vida que poderiam, em última instância, reduzir a incidência de transtornos mentais e/ou ajudar a aumentar a eficácia da medicação atual."

Como os autores do estudo argumentam, a expansão do rótulo "psicobiótico" deve ser priorizada como uma forma de explorar a comunicação bactéria-cérebro para benefício máximo.

Então, como essa comunicação funciona? Existem vários caminhos principais pelos quais os sinais do intestino atravessam o corpo e ultrapassam a barreira hematoencefálica. Algumas dessas vias centrais incluem o sistema nervoso entérico (uma parte do sistema nervoso que rege a função do sistema gastrointestinal), o nervo vago (conectando o cérebro e o intestino), o sistema imunológico e hormônios localizados no intestino. 

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Enquanto não muitos médicos estão prescrevendo psicobióticos ainda, estes já estão comercialmente disponíveis na forma de alimentos ricos em probióticos como o iogurte natural. Desde que já fazem parte de nossas dietas, os psicobióticos são um pouco como uma forma não regulamentada de tratamento de saúde mental, embora não tendemos a pensar dessa maneira.

"A grande questão aqui, em termos médicos, científicos e legais, é que os psicobióticos não são atualmente classificados como um tratamento", disse Burnet. "No máximo, eles são um suplemento dietético. A resposta a como e se deveriam ser regulados emergirá enquanto nós aprendemos mais sobre os efeitos dessas substâncias no sistema nervoso central."

A regulamentação permitiria que as pessoas acessassem tratamentos psicobióticos com diretrizes apropriadas para uso e dosagem, com base em suas necessidades particulares. Mas, muitos estudos em seres humanos ainda são necessários antes que tratamentos regulamentados estejam disponíveis. Enquanto isso, alguns médicos especialistas estão preocupados com o marketing generalizado de probióticos para os consumidores para tratar problemas psiquiátricos. Os consumidores devem ter cuidado com os muitos probióticos comercializados on-line como estimuladores cognitivos ou impulsionadores de humor, de acordo com o Dr. Emeran Mayer, gastroenterologista da Universidade da Califórnia, Los Angeles, e autor de The Mind-Gut Connection.

"Pessoalmente, penso que os verdadeiros psicobióticos que foram submetidos a testes clínicos rigorosos e à aprovação da FDA não estarão disponíveis antes de 5 a 10 anos", disse Mayer. No entanto, acrescentou, "o conceito de desenvolver psicobióticos no futuro é emocionante".

Embora haja um grande entusiasmo no mundo científico sobre as possibilidades, Burnet enfatizou que os psicobióticos não devem ser vistos como um substituto dos medicamentos psicotrópicos atuais.

"A qualidade de vida de muitas pessoas que sofrem de doença mental tem sido melhorada com o uso de antidepressivos, antipsicóticos, etc., e assim essas drogas são importantes", disse ele. "No entanto, há também alguns pacientes que não respondem à medicação convencional, e é aí que eu acho que os psicobióticos podem entrar em jogo.”

"Esses suplementos devem ser usados como ‘complemento’ ou terapias adjuntas para melhorar a resposta do cérebro aos medicamentos atuais.  

Fonte: https://www.essentialnutrition.com.br/conteudos/cat/conexoes/post/psicobioticos-bacterias-intestinais/ 

Para saber mais:

Psicobióticos, marcadores intestinales y el futuro de la salud mental

 

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