Viciados em web
A internet também pode ser uma droga viciante
A discussão sobre as drogas se tornou muito presente no cotidiano das pessoas e existe uma tentativa de conscientização de que o álcool e o cigarro também são drogas perigosas como aquelas mais pesadas que tanto condenamos. Mas existe um vício tão perigoso quanto que podemos estar deixando passar despercebido.
Segundo o dicionario, droga é: “Substância que causa alucinações e pode levar à dependência física ou psicológica; narcótico, entorpecente”
Tão importante quanto a discussão em geral sobre as drogas, é também entender o que leva um indivíduo a usá-las, mesmo tendo total conhecimento dos danos que ele estará causando sobre si e quem estiver a sua volta.
Em um mundo cada vez mais agressivo, no qual as pessoas estão gastando maior parte do seu tempo para poder apenas sobreviver e se sustentar, com cada vez mais responsabilidades e riscos, é comum o desejo de mudar, de ir embora, de se livrar dessa realidade a qualquer custo, da angustia, solidão ou sentimento de impotência sobre a própria vida. E como a maioria de nós não tem os meios ou a coragem para realizar essa mudança, é mais fácil se entorpecer.
No dicionário, torpor significa: ”Sentimento de mal-estar caracterizado pela diminuição da sensibilidade e do movimento; entorpecimento, estupor, insensibilidade.”
Isso mesmo, insensibilidade, é mais fácil ver o mundo cair a sua volta quando você não se importa com ele. O ser humano não consegue mais lidar com a realidade que criou: injustiças, violência… O mundo criado pelo homem parece ter se tornado hostil a ele próprio.
Mas para ser sincero, esse sentimento não é exclusividade do homem pós-moderno. O uso das drogas também não. Existem documentações do uso de entorpecentes pelo ser humano que datam milhares de anos.
A procura por algo que nos tire da nossa própria realidade é recorrente. Sempre buscamos a criação de coisas que nos forneçam prazeres constantes e que torne a convivência com o mundo e consigo mesmo mais fáceis.
Mas o que o homem antigo não tinha, era a internet e tudo que surgiu junto com ela. Quantas vezes você já pegou no seu celular ou Smartphone hoje? Talvez muita gente aqui não use drogas pesadas e beba álcool só de vez em quando. Mas a probabilidade beira a 100% de que todos estejam com um smartphone nas mãos agora.
Quem nunca teve aquela sensação ao estar passeando pela time-line do Facebook de que o mundo simplesmente desapareceu? E quantos não tomam para si a realidade vista no Instaram de gente bonita e sorridente?
É um mundo mais fácil de se lidar, um mundo que temos mais controle, e mesmo que seja mentiroso, não importa, não queremos a verdade, não suportamos a verdade.
Quando você era criança, se seus pais disseram que você poderia ser o que quisesse quando crescer, eles mentiram para você. E se hoje você é adulto, já aprendeu que no mundo real não podemos ser o que queremos, passamos a vida em busca de ser, apenas.
Mas, insatisfeito com isso, o ser humano criou a mais poderosa e influente droga: o mundo virtual. Podemos ser quem quisermos no Facebook, podemos ser felizes o tempo inteiro, pelo menos aparentar isso para os outros.
Podemos ser um forte guerreiro lutando contra dragões, ser um pirata em aventuras ou um soldado corajoso, explodir coisas, matar qualquer um sem consequências. No mundo virtual, podemos sim, ser o que quisermos.
Então é comum que, quando estamos tristes, angustiados ou simplesmente entediados, nos conectarmos a algo no meio virtual. Vamos condicionando nossa existência a esse mundo de fantasia, e não queremos mais sair.
E é ai que começa o problema, vamos viciando, negligenciando a vida real, deixando para trás oportunidades, pessoas que gostamos, a vida real vai deixando de existir, pois nós aceitamos mais como aquele “eu” virtual e damos todo nosso tempo a ele.
Um vício que atrapalha tudo que fazemos, tira nossa atenção e nos perturba. A todo instante, temos que olhar o celular e ver se existem notificações. E essa sensação fica em nossa mente e não sai até olharmos. E 40 segundos depois olhamos de novo, de novo e de novo.
Um vício que nos escraviza. Tente passar umas horas longe do celular ou do computador, tente não pensar neles. Impossível! A ansiedade toma conta e algumas pessoas realmente vão ter um ataque de nervos.
Aposto que você nunca pensou que na maioria das vezes que você usa o Smartphone é o mesmo que usar uma droga. Usa não por necessidades do cotidiano, mas para alimentar um vício. Entrar no Facebook, nesses casos, se equipara a acender um cigarro para saciar o vício no tabaco. O celular é a primeira coisa que você olha no seu dia e a última antes de ir dormir
É escolha de cada um o que faz da própria vida, e escolher viver em um mundo inexistente também é pessoal de cada um, mas a grande maioria de nós desconhece ou não percebe o quanto nos afundamos em um vício e, consequentemente, perdemos o poder de escolha e nós entregamos.
Fugir de si mesmo não é o melhor caminho, pois para onde você for o seu ” eu ” irá junto. E muito do que o mundo pede de nós é besteira: corpo perfeito, riqueza e tantas outras ideias que são obsessões plantadas na sociedade só para manter a própria máquina social e econômica rodando.
Mas você não precisa fazer parte disso. Buscar sabedoria e equilíbrio emocional já são lutas decentes e desafiadoras para nossas vidas. Encare de frente quem você é de verdade, não tenha medo, aceite sua realidade e a partir daí podemos nos situar de onde estamos e o que queremos, podendo caminhar com mais segurança pelo mundo imposto a nós.
Fonte: http://provocacoesfilosoficas.com/viciados-em-internet/