A construção da imagem corporal

Por Cristiano Nabuco

O reconhecimento de que possuímos uma imagem corporal tem seu início marcado no século XVI, quando Ambroise Paré relatou a existência de experiências estranhas em pessoas que haviam sofrido algum tipo de amputação física. Segundo o autor francês, uma espécie de alucinação fazia com que os indivíduos ainda sentissem o membro extraído, como se ele ainda estivesse ali, presente, gerando sensações concretas de sua existência (como movimento ou até mesmo coceiras, por exemplo).

De lá para cá, muito embora algumas pesquisas tenham se debruçado sobre o tema, sua compreensão ainda é marcada por muita ambiguidade.

Hoje, por exemplo, sabe-se que uma imagem corporal não é decorrente apenas de nossa biologia, conforme afirmou o autor em séculos passados, mas também sofre uma expressiva interferência social e emocional em sua construção.

Imagem corporal

A representação que possuímos de nós mesmos é, segundo pesquisas, uma organização de vários elementos, ou seja, é decorrente da interação de nossos processos biológicos, somado às nossas emoções e mesclado aos nossos sentimentos.

Assim, não sei se você se deu conta, mas essa imagem corporal de que falo é profundamente subjetiva (e não concreta) e afeta dramaticamente a maneira como nos enxergamos fisicamente.

Isso quer dizer então que a satisfação que temos com nossa forma física passa diretamente pelos filtros das percepções, pensamentos e sentimentos, o que altera, obviamente, a forma com a qual nos relacionamos com as pessoas a nossa volta.

Moral da história: nosso conceito sobre nosso corpo físico é mutável o tempo todo, pois é um processo dinâmico e que pode se alterar a cada instante.

Por essa razão também é que, em certos dias, ao nos olhamos no espelho (até) gostamos do que vemos, enquanto que em outros momentos, a imagem refletida é disforme, causando-nos vergonha e aversão.

O que fazer?…

A boa notícia é que podemos interferir na construção dessa imagem corporal, pois, no final das contas, é um conceito totalmente simbólico e pessoal. Assim, “interferir” positivamente para nos sentirmos mais atraente não diz respeito apenas à perda de peso, mas procurar alterar outros aspectos de nossa vida, ou seja, quando mais estável emocionalmente estivermos, melhor e maior será a satisfação que teremos com nosso corpo (tradução: o conceito de beleza é predominantemente subjetivo).

A má notícia: a maioria quase que absoluta das pessoas ainda acha que sentir-se melhor com seu corpo inevitavelmente passa por rotinas militares das academias, regimes insanos ou até plásticas sucessivas no corpo (somos os campeões mundiais deste tipo de intervenção, caso você ainda não saiba).

Nem de longe estou dizendo que não devemos realizar alguma atividade física, zelar por uma alimentação mais saudável ou ainda nos submeter a algum tipo de cirurgia – caso exista uma real indicação. O que enfatizo aqui, na verdade, é que talvez estejamos destinando esforços para mudar em dimensão errada.

Se você ainda pensa que irá gostar mais de seu corpo e deixá-lo mais bonito apenas e tão somente cuidando dele, sinto lhe informar, mas a pesquisa científica afirma que você poderá estar profundamente equivocado(a) e, no final das contas, chegar a lugar algum da satisfação.

Quando tentamos melhorar a imagem de nosso corpo apenas emagrecendo, corre-se o risco de sentirmos que nunca fizemos o suficiente. Está aí a anorexia nervosa para atestar um pouco do que estou falando. Ou ainda a vigorexia – que é a prática exagerada de atividade física-, uma vez que a pessoa se sente continuadamente nunca ter atingido ainda o suficiente de musculatura e vigor físico.

Mas afinal, onde estaria o problema?

Eu explico.

Vamos voltar ao começo? Eu não disse que a imagem corporal é uma construção subjetiva e que envolve não apenas as dimensões do corpo, mas também a forma com que lidamos com nossas emoções e sentimentos?…

Pois bem, para uma parcela bem expressiva das pessoas, compreender e manejar aquilo que sente se torna um problema dos mais graves, pois muita gente ainda possui um conhecimento psicológico muito rudimentar a respeito de si mesmo (por exemplo, aquilo que psicologicamente nos faz bem, aquilo que nos faz mal, quais são nossos pontos fracos, o que precisaríamos desenvolver em nossa personalidade etc).

Assim, como trabalhar com essa subjetividade não é uma empreitada das mais simples, as pessoas, inconscientemente, tentam focar exclusivamente no controle do corpo, procurando deixá-lo mais belo como forma de procurar atingir o bem-estar, pois em tese o corpo é mais “manejável” (ou controlável) do que as emoções.

Entretanto, ocorre aqui um grande equívoco: a insatisfação com o corpo, na verdade, tem origem muito mais nos aspectos emocionais do que nos aspectos físicos da experiência e assim o trabalho para a melhoria das medidas do corpo se torna, muitas vezes, ineficaz e raras vezes aparenta ter um fim.

Isto é, como muitas pessoas nunca se sentem satisfeitas emocionalmente, tem início a peregrinação da mudança física como forma alternativa de trazer de volta o bem-estar psicológico perdido ou até talvez nunca alcançado.

Ficou mais claro agora? … Tentar mudar o corpo como forma de se sentir mais atraente pode se revelar pouco eficiente no final das contas.

Uma pesquisa americana conduzida pelo “Consumer Reports National Research Center” perguntou a 1.328 psicólogos como eles tratavam a perda de peso de seus pacientes. A resposta dos profissionais em 44% foi: “Compreender e gerir as emoções são essenciais para buscar o emagrecimento”. Bem como o “comer emocional'' (em 43% dos clínicos) foi apontado como a principal barreira à perda de peso e satisfação com seu próprio corpo. Noventa e dois por cento dos entrevistados concluíram que para se produzir um bem-estar físico é necessário que, inevitavelmente, se trabalhe antes com as questões emocionais dos pacientes.

Conclusão

Algumas dicas podem lhe ajudar a ficar fisicamente mais bonito(a) e atraente ante  seus próprios olhos:

1)    Procure estabelecer uma rotina de vida que lhe traga mais satisfação, ou seja, corra atrás de alguns sonhos que o cotidiano se encarrega de levar embora. Assim, não deixe de lado outras coisas que poderiam lhe trazer prazer, como adotar algum hobby que o ocupe e lhe traga realização.

2)    Estabeleça relações de maior confiança com algumas pessoas e fale de suas inseguranças e inquietudes. Quando temos alguém mais próximo a nossa volta, inevitavelmente nos sentimos mais protegidos e confiantes, o que obviamente reflete na satisfação que temos ao nos olhar no espelho. Procure se recordar de momentos em que você estava muito satisfeito(a) e feliz em sua vida. Posso apostar que, nesses momentos, possivelmente, a sua “beleza física” não teve muito apelo para a realização daquele momento. Portanto, mude o foco enquanto é tempo. E, finalmente,

3)    Entenda que a vida é uma sucessão de períodos que se alteram e se entrelaçam, ou seja, sempre vivemos momentos de maior vigor, intercalados com momentos de menor vitalidade física – o que é parte de nossa biologia. Portanto, trabalhe para que você possa se sentir belo(a), mas não deixe que isso ocupe espaço demasiado em sua existência, pois a beleza, de fato, dizem os filósofos, terapeutas e cientistas, se relaciona muito mais com o jeito que vivemos do que com a forma física que adquirimos.

Pense e reflita. Tenho certeza que, desta forma, a vida e você poderão lhe parecer muito mais belos.

 

Fonte: http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/2014/08/06/a-construcao-da-imagem-corporal/

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