Os espaços públicos e a saúde mental
Como construir lugares para melhorar a saúde mental dos habitantes
por Constanza Martínez Gaete
O placemaking é um conceito cunhado pela ONG norte-americana, Project for Public Spaces (PPS), para definir os processos de desenho colaborativo de espaços públicos que levam em conta os desejos, interesses e necessidades das comunidades locais. Seus alcances foram estudados sob a perspectiva de diversos temas presentes em nossas cidades, como ecologia, psicologia, sustentabilidade, resiliência, entre outros.
O último informe elaborado pela PPS com apoio e financiamento da ONG especializada em saúde, Kaiser Permanente, retoma esse conceito e o enquadra em estratégias e projetos formulados a partir do placemaking, e que foram capazes de melhorar a saúde mental, psicológica e social dos habitantes.
O impacto desse foco pode ser visualizado em cinco áreas. Estas são:
1. Suporte social e Interação
A tendência humana de viver em comunidade é uma característica que muitos escutaram mais de uma vez. Isso significa que os seres humanos estão projetados para viverem em comunidade e, portanto, devem relacionar-se com seus pares.
Diante disso, os espaços públicos podem ser entendidos como locais de excelência para as relações sociais. De fato, desde a Grécia Antiga esses eram os lugares de encontro, sendo os principais, a ágora, os mercados e os parques. Apesar disso, a transposição desta interação aos espaços privados é uma realidade, sobretudo nas últimas décadas.
No entanto, o informe defende que quando existe interação, há uma série de benefícios para seus habitantes, sendo os principais o suporte social, as redes de apoio e o sentido de pertencimento a uma comunidade, valores que Kawachi I, Kennedy BP e Glass R. agruparam para definir o capital social em seu estudo “Social capital and self-rated health: a contextual analysis”.
Mas, portanto, o que se pode fazer para que isso seja possível? PPS apresenta seis chaves:
1. Envolver os residentes locais, trabalhadores e outras partes interessadas em um processo significativo para ajudar a projetar o uso e o desenho de espaços que impactam a vida pública.
2. Avaliar as oportunidades das propriedades existentes (construir áreas cobertas, praças em frente aos edifícios, lotes não empreendidos, ruas adjacentes) para transformá-los em lugares de reunião social que podem receber uma ampla gama de atividades e programas.
3. Organizar ou liderar eventos que busquem explicitamente reunir membros da comunidade de diferentes origens sociais, econômicas e culturais.
4. Proporcionar serviços de espaços públicos que fomentem a interação social (mesas e cadeiras, música, jogos etc.) e oferecer espaço para reuniões privadas de forma gratuita ou com descontos para grupos e interesses locais.
5. Identificar formas de construir a capacidade a longo prazo dos residentes locais, especialmente aqueles com desvantagens em saúde e outras áreas, para lidar com programas que constroem habilidades e conexões, tais como treinamento, programas de estágio, oportunidades de voluntariado e grupos de trabalho que ajudam a manter e programar espaços específicos.
6. Exibir o talento e a cultura local com eventos ou exposições de arte ou encenações, além de instalações projetadas localmente e construídas como assentos e mesas.
2. Recreação ativa e entretenimento
Um dos vários benefícios associados aos espaços e parques públicos refere-se ao fato de que, quando bem projetados, esses locais fomentam a atividade física entre os visitantes, sejam crianças ou adultos. Assim, quando o desenho é um elemento bem resolvido, ele passa a incentivar os passeios recreativos.
Dessa forma, é possível para os visitantes manter um peso saudável, melhorar sua função cognitiva e diminuir os riscos de ter doenças crônicas (como as doenças cardíacas e a diabetes tipo 2).
Apesar disso, é necessário agregar a tais benefícios, outros aspectos, como a apropriação do lugar e a geração de um sentido de comunidade que se apresenta quando os habitantes foram parte do processo de planejamento dos espaços públicos e parques.
Tomando isso como referência, a PPS apresenta oito conceitos para favorecer a participação comunitária na criação desses lugares:
1. Envolver a vizinhança no planejamento e criação de parques e outros locais de recreação ativos, e nas melhorias para que esses espaços sejam mais ecológicos, seguros, limpos, acessíveis e fomentadores da interação social.
2. Associar-se a grupos comunitários e envolver os residentes locais para proporcionar ideias e comentários sobre melhorias e programas para os parques locais e espaços públicos de recreação ativa.
3. Buscar oportunidades para aumentar número, tamanho, segurança e qualidade dos espaços públicos de recreação ativa a pouca distância de onde as pessoas vivem.
4. Avaliar as oportunidades de inclusão de serviços recreativos ativos, equipamentos e/ou programação de formas permanentes ou temporárias em propriedades existentes (praças em frente aos edifícios, parques, lotes não urbanizados, ruas adjacentes, etc.)
5. Patrocinar ou organizar eventos de Ruas Ativas ou Ruas Abertas.
6. Programar atividades físicas e recuperação de espaços públicos por meio do uso de linguagem, imagens e métodos que atraiam a diversas grupos, incluindo pessoas que não falem a língua local.
7. Melhorar o acesso à pé, de bicicleta e por transporte público e as conexões com parques comunitários locais, parques infantis, atividades físicas e espaços públicos de recreação ativa.
8. Encontrar novas formas de promover a socialização e a interação nos espaços recreativos através de estratégias como dias de limpeza, eventos especiais, equipamentos ou jogos interativos e a disposição de monitores para diversas idades e interesses.
3. Entornos naturais e verdes
A vegetação aparece como um dos elementos principais na construção de um espaço público de qualidade.
Sua importância reside em sua capacidade de tornar um local mais acolhedor visualmente e beneficiar o estado de saúde da população em diversas perspectivas ao reduzir os níveis de ansiedade, depressão e estresse, além de aumentar a atenção e a memória. Além disso, a vegetação transforma-se em uma plataforma para favorecer a interação e as atividades sociais que conformam o capital social.
Por último, a presença do verde ajuda a melhorar a qualidade do ar a da água, além de reduzir a delinquência violenta. Assim sendo, como contribuir com sua existência nas cidades?
1. Buscar oportunidades para aumentar número, tamanho, segurança e qualidade dos espaços verdes, parques e passeios a pouca distância das casas, particularmente em terrenos baldios.
2. Incorporar elementos naturais nos espaços verdes existentes que possuam um vínculo com melhores resultados de saúde, tais como árvores, características da água, passeios para caminhar, e fauna.
3. Incorporar árvores e elementos de paisagismo no tecido urbano em geral.
4. Alimentação saudável
A possibilidade de ter por perto uma fonte de produção de alimentos, permite que os consumidores tenham acesso a alimentos frescos e que contribuem na redução do impacto ambiental na cadeia de distribuição desta categoria entre as áreas rurais e urbanas.
Apesar disso, as vantagens de tal sistema de produção vão muito além, tocando em questões ambientais, econômicas, educacionais e sociais. Por isso, a PPS aconselha o incentivo a esse tipo de iniciativa de produção levando em conta as seguintes orientações:
1. Aproveitar as propriedades existentes e localizadas no centro (praças em frente a edifícios, estacionamentos, ruas adjacentes, etc.) para criação de mercados regulares com os produtos de agricultores durante todo o ano.
2. Apoiar a implementação de serviços de saúde e alimentos saudáveis para conectá-los a outros nós do sistema alimentício local (mercados de agricultores, bancos de alimentos, etc.)
3. Integrar projetos de paisagismo no desenho de escolas, residências e outros empreendimentos.
4. Criar oportunidades para educação e programação relacionadas à saúde em espaços públicos.
5. Assegurar a classificação dos produtos à venda nos mercados de agricultores por meio da entrega de vales, programas de apoio ao Programa de Assistência Nutricional Suplementar (SNAP, na sigla em inglês) e os benefícios do programa de Mulheres, Bebês e Crianças (WIC).
5. Caminhadas e ciclismo
O placemaking é um mecanismo de apoio aos meios de transporte sustentáveis uma fez que defende que os espaços tornam-se mais atrativos quando são mais acessíveis à pé ou de bicicleta.
É por isso que a PPS aconselha os seguintes pontos sobre o tema:
1. Buscar oportunidades para criar ou melhorar destinos públicos, especialmente aqueles situados no centro, próximos a paradas de trânsito e que facilitam o acesso à pé ou de bicicleta.
2. Melhorar o acesso à pé e de bicicleta aos principais destinos da vizinhança, proporcionando uma infraestrutura segura, cruzamentos, armazenamento seguro das bicicletas, etc.
3. Patrocinar ou ajudar de forma recorrente a organizar eventos de Ruas Ativas ou Ruas Abertas.
4. Apoiar os trabalhadores nas ruas da vizinhança para criar espaços mais seguros para caminhar e andar de bicicleta.
5. Trabalhar com os residentes para limpar, reparar e embelezar as ruas para fazer da caminhada uma experiência mais agradável e segura.
6. Proporcionar sinalização de rota e mapas em frente a edifícios de instituições de saúde e outros destinos importantes.
Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/870258/como-construir-lugares-para-melhorar-a-saude-mental-dos-habitantes
Para saber mais: Informe “Lugares Saudáveis: Melhorar a saúde através do Placemaking”