Relações humanas no mundo contemporâneo: testemunho como chave ética
Os últimos cem anos, ou seja, desde a Primeira Guerra Mundial, foram marcados por genocídios e etnocídios: os armênios, os judeus, os ciganos, muitas populações da África (no contexto das guerras coloniais e pós-coloniais), populações da ex Iugoslávia, os opositores do Kmehr Vermelho no Camboja, as vítimas das bombas atômicas lançadas no Japão, as populações ameríndias na América do Sul, são apenas algumas dessas vítimas. A esses milhões de mortos e vítimas da destruição de sua cultura devemos acrescentar os que ainda hoje morrem por conta de megaprojetos que destroem a natureza e tratam áreas como a floresta amazônica como se fossem não habitadas, destruindo a base da vida de povos originários e de populações ribeirinhas.
Walter Benjamin lembrou uma vez que “dominação da natureza, assim ensinam os imperialistas, é o sentido de toda técnica”. Mas a essa visão ele contrapôs outra: “A técnica não é dominação da natureza: é dominação da relação entre natureza e humanidade.” Nossa fala mostrará como as práticas de testemunho, nascidas desse acúmulo de destruição, podem incidir sobre novos modelos de se pensar as relações interhumanas e entre humanos e não humanos.
Mais do que nunca é a escuta do sofrimento dos esmagados pela engrenagem de nossos modelos de progresso e de técnica e a escuta do lamento da Natureza que poderão servir de armas contra nossa própria auto-aniquilação. Mais do que um ecologismo de sustentabilidade, precisamos de um ecologismo mais radical, crítico e revolucionário. Temos que aprender com Daniel Munduruku que: “Se o tempo atual não fosse bom ele não se chamaria presente. Ele é o único presente que temos.”