Acompanhamento Terapêutico
O acompanhamento terapêutico (AT) é uma modalidade clínica complementar aos demais tratamentos em saúde mental, oriunda da Argentina, e que tem como um de seus principais objetivos a reabilitação psicossocial. No Brasil o AT teve seu início com o movimento de desospitalização dos pacientes acometidos por distúrbios psiquiátricos e que tinham sofrido um estreitamento em sua vida cotidiana, com a tendência a perder a autonomia e o contato social, e enfrentavam dificuldades para executar no seu dia-a-dia as tarefas rotineiras. Este profissional foi primeiramente denominado atendente psiquiátrico, passando posteriormente a amigo qualificado e finalmente a acompanhante terapêutico (at).
Ultimamente a prática do AT vem se expandindo e ganhando novos contornos, estando presente por exemplo em vários setores da saúde como; clínica geriátrica, oncológica, cardiológica, dependências químicas e nas situações pré cirúrgicas; na educação na área da inclusão escolar; nas instituições atendendo alguns convênios médicos; nas situações traumáticas como terremotos e acidentes aéreos.
Muitos profissionais podem exercer o AT, entre os vários podemos citar: psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, enfermeiros, assistentes sociais, educadores físicos, no entanto, no Brasil esta prática clínica ainda não é regulamentada como uma profissão.
Hoje o AT é um termo não mais definido por uma continência oferecida (amigo qualificado), mas sim por uma ação junto a uma outra pessoa – o acompanhar - que se caracteriza pela sua abertura aos encontros, por gerar movimentos e gestar atitudes. É nas situações onde há alguma forma de desamparo onde opera o AT, mas não foi assim desde o princípio, oriunda da clínica das psicoses o AT foi demarcando terreno e inscrevendo se gradualmente nas várias áreas vulneráveis do ser humano.
Nesta prática clínica os encontros entre o acompanhante terapêutico e o seu acompanhado não acontecem no interior de um consultório, mas em espaços como: a casa do acompanhado, as ruas, praças ou parques, dentro de centros comerciais, ou seja, nos espaços da cidade, dai a denominação clínica ampliada de enquadre aberto.
Em um Acompanhamento Terapêutico as ações são guiadas por um projeto terapêutico, e nesta prática vamos, na maior parte do tempo, tecendo redes com seus NÓS de amarração, criando vínculos afetivos entre os sujeitos, com o intuito de possibilitar a vivência de novas experiências afetivas, que possam ser fundantes, e que permitam cerzir o tecido muitas vezes esgarçado da subjetividade, então procuramos fabricar ou acompanhar a construção de condições para que esta subjetividade possa aparecer de forma viável na sociedade. Para nós os acontecimentos cotidianos onde estamos mergulhados são acontecimentos clínicos que possibilitam alianças e encontros antes impensáveis ou impossibilitados.
No decorrer de nossa prática, a medida em que enfrentávamos situações inusitadas e inéditas devido às particularidades desta modalidade clínica, percebemos que a psicologia ou a psicanálise não eram suficientes para refletirmos sobre as atividades incorporadas por esta clínica e sobre esta figura híbrida que acabou se tornando o acompanhante terapêutico (at).
Desde então, à semelhança do crocodilo Tic-Tac que, após comer a mão do Capitão Gancho, sempre está em busca das partes restantes do corpo deste, também estamos à busca de outros saberes com os quais possamos dialogar para tecer e compor um corpo teórico que dê conta das diversas facetas desta clinica ampliada que se tornou o AT, tal qual a prática, a teoria exige um movimento de criação de NÓS e redes.
É desta forma que com o passar do tempo pensadores das ciências humanas e sociais como: sociologia, antropologia, serviço social, filosofia, literatura, direito e geografia se tornaram nossos interlocutores.
Nas seções "Temas em AT", "Grátis", "Videos", "Documentários" e "Produções" também podem ser encontrados conteúdos diretamente relacionados ao Acompanhamento Terapêutico.
Se você ficou interessado em conhecer, estudar, se aprofundar ou ter supervisões nesta prática escreva-nos.
PARA SABER MAIS:
EQUIPE de Acompanhantes Terapêuticos do Hospital-Dia A Casa (Org.). A rua como espaço clínico. Acompanhamento terapêutico. São Paulo: Escuta, 1991.
EQUIPE de Acompanhantes Terapêuticos de A Casa (Org.). Crise e cidade: acompanhamento terapêutico. São Paulo: EDUC, 1997.
Kléber Duarte Barreto. Ética e técnica no acompanhamento terapêutico. Andanças com Dom Quixote e Sancho Pança. 2ª. ed. São Paulo: UNIMARCO, 2000.
Raymundo de Oliveira Reis Neto. Acompanhamento terapêutico: emergência e trajetória histórica de uma prática em saúde mental no Rio de Janeiro. Dissertação (Mestrado em Psicologia Clínica) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1995.
Ricardo Gomides Santos (Equipe de Ats do Instituto A Casa). (Org.). Textos, texturas e tessituras no acompanhamento terapêutico. Saúdeloucura n.19. São Paulo: Instituto A Casa/ Hucitec, 2006.
Susana Kuras de Mauer e Silvia Resnizky. Acompanhantes Terapêuticos e pacientes psicóticos. Campinas: Papirus, 1987.